segunda-feira, 9 de março de 2009

A ORAÇÃO NA QUARESMA



Iniciamos no último sábado (07/03/2009) uma sequência de pregações sobre os exercícios quaresmais, começando pela Oração.




Em Lc 19, 1 - 10. Podemos ler a história peculiar e conhecida de Zaqueu, esta história nos ensina como deve ser a nossa oração durante a quaresma:




- Reconhecer nossa condição: Zaqueu sabia que era baixinho e precisava transpor essa dificuldade para poder ver Jesus;

- Vontade de Deus: Zaqueu queria ver Jesus, não se importava com sua estatura, com o que as pessoas pensavam dele ou com sua ocupação, cargo ou condição financeira;

- Reconhecer nossa condição: Zaqueu ao subir no sicomoro se reconhece limitado, precisando superar uma dificuldade para encontrar o Senhor;

- Mostrar-nos dispostos a mudança: Jesus esperava que Zaqueu estivesse lá, sabia que estaria, mas dependia de Zaqueu subir na árvore, quando Jesus olha, vê Zaqueu e conclui que este se dispôs a superar suas dificuldades e humilhar-se apenas para vê-lo;

- Nós precisamos de Jesus: Quando Jesus diz a Zaqueu - é preciso que eu fique hoje em tua casa, desce depressa - Jesus não está dizendo que ele precisa estar na casa de Zaqueu, mas que Zaqueu precisa do Senhor em sua casa, em sua vida, que mexa com sua estrutura.


Abaixo está a oração de Santo Éfren e a explicação da mesma... Boa leitura.


«A Oração da Quaresma de Santo Efrén, o Sírio»
Pe. Alexander Schmemann
Tradução: monges da Comunidade Monástica São João o Teólogo

e todos os hinos e orações da quaresma, uma pequena oração pode ser qualificada como "A Oração da Quaresma". A Tradição atribui sua autoria a um dos maiores mestres da vida espiritual, Santo Efrén o Sírio.
"Senhor e Mestre de minha vida,afasta de mim o espírito de preguiça, de abatimento, de domínio, de loquacidade,e concede a mim, teu servo, um espírito de integridade,de humildade, de paciência e de amor. Sim, Senhor e Rei, concede ver meus pecados e não julgar meus irmãos"porque és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.
Esta oração é recitada duas vezes ao final de cada Ofício de Quaresma, de segunda a sexta-feira.
Por que esta pequena e simples oração ocupa um lugar tão importante em toda a vida litúrgica da Quaresma? Porque enumera, de um modo singular, todos os elementos positivos e negativos do arrependimento e constitui, de algum modo, uma espécie “checking list” de nosso esforço individual de Quaresma. Este esforço aponta primeiro a nossa libertação de algumas enfermidades espirituais fundamentais que dão forma à nossa vida e que tornam virtualmente impossível para nós, inclusive, iniciar o nosso retorno para Deus.
Então, negativos:
1. Indolência
2. Desalento
3. Vanglória
4. Loquacidade (palavras vãs, inúteis)
Indolência
A enfermidade básica é a indolência. É esta estranha preguiça e passividade de nosso ser que sempre nos empurra para “baixo”, em vez de nos elevar para o “alto” – que constantemente nos convence que nenhuma mudança é possível e, portanto, desejável.
É de fato um cinismo profundamente enraizado que reage a cada ato espiritual: “para que?” e faz de nossa vida um enorme desperdício espiritual. É a raiz de todo pecado porque envenena a sua energia espiritual em sua própria fonte.

Desalento
E o resultado da indolência é a pusilanimidade, o estado de desalento considerado por todos os Santos Padres como o maior perigo para a alma. O desalento é a impossibilidade do homem ver qualquer coisa como boa ou positiva; é a redução de tudo ao negativismo e pessimismo. É, verdadeiramente, um poder demoníaco em nós, porque o diabo é fundamentalmente um mentiroso. Ele mente ao homem sobre Deus e sobre o mundo; ele enche a vida com obscuridade e negação. O desalento é o suicídio da alma porque, quando o homem é possuído por ele fica absolutamente incapaz de ver a luz e desejá-la.

Vanglória
Vanglória! Por estranho que possa parecer, é precisamente a indolência e o desalento que enchem nossa vida de vanglória. Ao contaminar toda a atitude para a vida e fazê-la sem sentido e vazia, forçam-nos a buscar compensação numa atitude radicalmente equivocada para com as outras pessoas.
Se minha vida não estiver orientada para Deus, não apontará para valores eternos e, inevitavelmente, se tornará egoísta e egocêntrica, e isto significa que todos os outros seres se tornarão meios de minha autodestruição.
Se Deus não é o Senhor e Mestre de minha vida, então eu me torno senhor de mim mesmo, mestre e centro absoluto de meu mundo, e começo a avaliar tudo em termos de minhas necessidades, minhas necessidades, meus desejos e meus juízos.
A vanglória é então uma depravação fundamental em minha relação com outros seres, uma busca de sua subordinação a mim. Não é necessariamente expressada num verdadeiro impulso de dominar e mandar aos “outros”. Pode também se manifestar em indiferença, desprezo, falta de interesse, consideração e respeito.
Quando a indolência e o desalento se dirigem aos outros, aí então está verdadeiramente a vanglória; assim completamos o suicídio e a morte espiritual.

Loquacidade (Palavra Inútil)
Finalmente, a loquacidade.
De todos os seres criados, somente o homem foi dotado com o dom da palavra. Todos os Santos Padres vêem na vã palavra o verdadeiro “selo” da Imagem Divina no homem, porque Deus mesmo se revelou como verbo (Jo 1,1). Porém, na medida em que é dom supremo, é igualmente prova de supremo perigo. Sendo a mesma expressão do homem, o meio de sua auto-realização, é por esta mesma razão o meio de sua queda e auto-destruição, de traição e de pecado. A palavra salva e a palavra mata; a palavra inspira e a palavra envenena. A palavra é o meio da verdade e a palavra é um meio da mentira demoníaca. Verdadeiramente, cria, positiva e negativamente. Quando é desviada de seu propósito e origem divina, a palavra se torna inútil e reforça:
1. a indolência;
2. o desalento;
3. a vanglória
e transforma a vida em um inferno, se torna mesmo poder do pecado.
Estes são então, os quatro “objetos” negativos do arrependimento. São os obstáculos a serem removidos. Porém, somente Deus pode removê-los. Portanto, é a primeira parte da Oração de Quaresma – este grito do fundo do desamparo humano. Logo, a oração se move às atitudes do arrependimento que também são quatro.
Então:
Negativos:
1. Indolência;
2. Desalento;
3. Vanglória;
4. Loquacidade (palavra inútil).
Positivos:
1. Castidade
2. Humildade
3. Paciência
4. Amor
Castidade
Castidade! Se se reduz este termo (e, freqüentemente é entendido de forma errônea) só às suas conotações sexuais, é entendido como a contraparte positiva da indolência. A indolência é, antes de tudo, dissipação, ruptura de nossa visão e energia, a incapacidade de ver o todo. Seu oposto é precisamente plenitude.
Se, usualmente nos referimos a castidade como a virtude oposta à depravação sexual, é porque o caráter destruído de nossa existência é aqui melhor manifestado que na luxúria sexual. Cristo restaura a plenitude em nós e Ele faz isto ao restaurar em nós a verdadeira escala de valores ao levar-nos de volta a Deus.

Humildade
O primeiro e maravilhoso fruto desta plenitude ou castidade é a humildade. Está sobre tudo mais a vitória da verdade em nós, a eliminação de todas as mentiras nas que usualmente vivemos. A humildade é em si mesma a verdade, e pode ver e aceitar as coisas como são e, portanto, de ver a majestade e bondade de Deus em tudo. É por isso que se nos diz que Deus dá graça ao humilde e se opõe ao orgulhoso.

Paciência
A castidade e a humildade são naturalmente seguidas pela paciência.
O homem “natural”, ou “caído” é impaciente porque, sendo cego para si mesmo é rápido para julgar e para condenar aos outros. Tendo um conhecimento fragmentado e distorcido do todo, ele mede todas as coisas por seus próprios gostos e idéias. Sendo indiferente a todos, exceto a si mesmo, ele quer que a vida seja exitosa aqui mesmo e agora. A paciência, não obstante, é realmente uma virtude divina. Deus é paciente não porque Ele é “indulgente”, mas porque Ele vê a profundidade de tudo o que existe, a realidade interior das coisas que, em nossa cegueira, não conseguimos ver.
E, quanto mais nos aproximamos de Deus, mais pacientes nos tornamos e mais refletimos este infinito respeito por todos os seres, que é a qualidade própria de Deus.
Amor
Finalmente, a coroa e fruto de todas as virtudes, de todo o crescimento e esforço é o amor – o amor que, como temos dito, só pode ser dado por Deus – este dom que é a meta de toda a preparação e prática espiritual.
Então,
Positivos:
1. Castidade
2. Humildade
3. Paciência
4. Amor
Todo isto é resumido e reunido na súplica (petição) de conclusão da Oração da Quaresma na qual pedimos “...conhecer minhas faltas e não julgar a meus irmãos”. Porque, em último caso, só há um perigo: o orgulho. O orgulho é a fonte do mal, e todo mal é orgulho.
Os escritos espirituais estão cheios de advertências contra as sutis formas de pseudo-piedade, as quais, na realidade, sob a aparência de humildade e auto-acusação, podem levar a um orgulho verdadeiramente demoníaco. Porém, quando nós “conhecemos nossos próprios erros” e “não julgamos os nossos irmãos”, quando, noutros termos, a castidade, a humildade, a paciência e o amor são um só em nós, então, e só então, o último inimigo - o orgulho – terá sido vencido.
Logo após cada petição da oração realizamos uma prostração.
A prostração não se restringe à Oração de Santo Efrén, mas é apenas uma das características distintivas da vida litúrgica da Quaresma. Aqui, no entanto, seu significado é dado a conhecer melhor.
No longo e difícil esforço da recuperação espiritual, a Igreja não separa a alma do corpo. O homem completo caiu e se afastou de Deus; o homem completo foi restaurado, ele, o homem inteiro é que deve regressar a Deus. A catástrofe do pecado acha-se precisamente na vitória da carne – o animal, o irracional, a luxúria em nós – sobre o espiritual e o divino. Porém, o corpo é glorioso, o corpo é sagrado, tão sagrado que Deus mesmo “fez-se carne” Jo 1,1.
A salvação e o arrependimento não são desprezo do corpo ou sua negação, mas a restauração da sua verdadeira função como a expressão e a vida do espírito, como o templo da alma humana que não tem preço.
O ascetismo cristão é uma luta, não contra, mas em favor do corpo. Por esta razão, o homem completo - alma e corpo – se arrependem. O corpo participa na oração da alma assim como a alma ora através e no interior do corpo.
A prostrações: signo “psicossomático” do arrependimento e da humildade, da adoração e da obediência são, desta forma, o rito de Quaresma por excelência.
Deus nos permita viver esta Quaresma de modo adequado. Que Ele nos fortaleça para que cheguemos a ter em nós a humildade, a castidade, a paciência e o amor.
Este é o convite! Em ti está a decisão de segui-lo!
Fonte:
(...)
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/espiritualidade/a_oracao_de_santo_efren.html